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Mais de 8 anos levando a língua e a cultura coreana ao coração do Brasil

Professora de coreano que ensina coreano no Brasil há mais de 8 anos. Nesta primeira entrevista para a revista ‘Cloud’, conversamos sobre diversos assuntos com ela.

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Mais de 8 anos levando a língua e a cultura coreana ao coração do Brasil
Cloud

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Publicado
3 nov 2024
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Em uma sala de aula em São Leopoldo, uma professora de coreano se comunica diariamente com alunos brasileiros, transmitindo muito mais do que apenas uma nova língua. Além das lições de gramática e vocabulário, ela compartilha a história e a cultura da Coréia, construindo uma ponte entre os dois países. Nos olhos dos alunos, percebe-se que o aprendizado vai além das palavras; é uma jornada de compreensão de uma cultura inteira.

Olá, eu sou a professora Kim Sujin, e atualmente ensino coreano no Instituto Rei Sejong de São Leopoldo, aqui no Brasil.

C: Gostaríamos de saber o que motivou você a começar a ensinar coreano no Brasil.

Meu sonho de ensinar coreano para estrangeiros começou quando eu estava no terceiro ano do ensino médio. No início, eu não pensava em trabalhar no exterior, mas, após concluir meus estudos de pós-graduação e lecionar em uma universidade na Coreia, comecei a me perguntar como seria ensinar em outro país. Foi então que encontrei a oportunidade de trabalhar no Brasil, um país sobre o qual eu nada sabia na época. A minha curiosidade me levou a me candidatar e acabei vindo para cá sem falar uma única palavra em português.


Foto: Aparência da professora Sujin Kim na época de sua formatura na universidade

C: Gostaríamos que nos falasse um pouco sobre o local onde você trabalha atualmente e o que você faz lá.

Atualmente, eu trabalho no Instituto Rei Sejong de São Leopoldo, que está localizado dentro da Universidade Unisinos. O Instituto é uma parceria entre a Fundação Rei Sejong da Coreia, a Universidade Pai Chai e a Unisinos. As aulas são ministradas com os materiais didáticos fornecidos pela Fundação, que também encoraja atividades culturais e aulas especiais. Em colaboração com o curso de gastronomia da Unisinos, por exemplo, eu também ensino culinária coreana, e organizamos atividades culturais semanalmente.

C: Você está fazendo um trabalho importante ao ensinar a língua coreana e divulgar a cultura. Poderia nos explicar um pouco mais detalhadamente sobre isso?

Quando cheguei aqui, a demanda pelo ensino de coreano não era tão alta, então eu dava aulas apenas no campus de São Leopoldo. No entanto, com o tempo, especialmente graças ao K-pop, aos dramas e aos filmes coreanos, o interesse aumentou, especialmente em Porto Alegre, a capital do estado do Rio Grande do Sul. Assim, desde março de 2018, dou aulas tanto no campus de São Leopoldo quanto no campus de Porto Alegre. Como eu estava trabalhando sozinha, não conseguia expandir as turmas, mas a Fundação Rei Sejong enviou um professor para nos auxiliar. Hoje, o professor enviado ministra as aulas em Porto Alegre, enquanto eu dou aulas em São Leopoldo, mas ainda ensino uma vez por semana em Porto Alegre.

C: Na sua opinião, qual é a motivação dos estudantes brasileiros para aprender o idioma coreano?

Em 2016, quando cheguei pela primeira vez, a maioria dos alunos que se interessavam por coreano eram fãs de K-pop. No entanto, depois da pandemia, muitos alunos começaram a se interessar pela cultura coreana assistindo a filmes e séries coreanas no Netflix e em outras plataformas de streaming. Em cidades como São Paulo, Brasília e Campinas, onde também há Institutos Rei Sejong, vemos que muitos alunos estão estudando com o objetivo de fazer intercâmbio na Coreia. Aqui em São Leopoldo, porém, a maioria dos alunos são adultos que estão interessados na cultura coreana como um hobby, o que reflete uma característica regional.

C: Quais são, na sua opinião, as partes mais difíceis no processo de aprendizagem dos estudantes brasileiros que estão tendo o primeiro contato com a língua coreana?

Normalmente, começamos com a turma de Nível 1, mas o conteúdo desse nível é bastante extenso. Inclui o aprendizado do alfabeto coreano, gramática e vocabulário, o que pode ser muito desafiador. Então, separei uma turma dedicada apenas ao alfabeto, onde os alunos podem se concentrar mais profundamente no aprendizado do Hangeul, misturando aspectos culturais para tornar a experiência mais divertida e interessante. Acredito que a pronúncia é a parte mais difícil para os alunos. Sons como o “ng” não existem em português, e para facilitar o aprendizado, eu costumo usar comparações engraçadas, o que faz com que eles memorizem e se divirtam ao mesmo tempo.


Foto: Aula de comida coreana realizada como parte da aula cultural


C: Qual é a demanda pela língua coreana aqui? E quantos alunos estão atualmente participando das aulas?

Quando cheguei aqui, não havia tantas turmas, mas com o aumento da demanda, solicitei que a universidade disponibilizasse uma sala maior. A quantidade ideal de alunos para um ensino de qualidade é em torno de quinze, mas atualmente estamos recebendo até trinta e cinco alunos por turma no Nível 1, e as vagas se esgotam em cerca de dez a quinze minutos após a abertura das inscrições.

Seria ótimo se pudéssemos contar com mais um professor, pois assim poderíamos abrir mais turmas. Porém, devido a questões de visto e outras dificuldades, não conseguimos expandir tanto quanto gostaríamos. A demanda continua a crescer, mas nossa capacidade de atender a todos ainda é limitada.

C: Qual foi o momento mais gratificante para você ao ensinar coreano para seus alunos? Há alguma experiência ou episódio marcante que gostaria de compartilhar?

Um dos meus alunos ganhou o primeiro lugar no concurso de fala em coreano realizado aqui na Sejong Hakdang em São Leopoldo e teve a oportunidade de ir para a Coreia. O concurso que realizamos aqui serve como uma etapa preliminar, e este aluno conseguiu passar para a etapa final e foi selecionado para receber uma bolsa de estudos na Coreia. Ele estudou lá e, depois, quis aprofundar ainda mais seus estudos, então obteve uma bolsa do governo para cursar o mestrado. Pelo que sei, atualmente, ele também está ensinando coreano. Isso aconteceu no concurso de fala de coreano em 2018, antes da pandemia.

C: Quais são as diferenças culturais que você experimentou e sentiu ao ensinar coreano no Brasil?

Quando vim ao Brasil pela primeira vez, eu não falava português e meu inglês não era fluente. Na Coreia, durante as aulas de língua coreana, é comum que os professores falem em coreano a maior parte do tempo, mas aqui precisei usar o inglês. No entanto, percebi que havia um aluno que sempre me olhava com uma expressão séria, às vezes cruzava as pernas e não parecia prestar atenção. Achei que ele não gostava de mim ou das minhas aulas. Depois, descobri que era apenas o jeito dele de se concentrar, e ele acabou se tornando um dos meus alunos mais dedicados. Foi uma situação em que percebi as diferenças culturais.


Foto: Primeiros dias de chegada ao Brasil


C: Houve mudanças pessoais em sua vida ao comparar o período antes de morar no Brasil e os 8 anos que viveu aqui?

Antes de vir ao Brasil, eu levava uma vida agitada, focada no futuro e nos investimentos para o meu crescimento profissional, o que é comum entre os coreanos. No entanto, ao observar como os brasileiros vivem o presente e aproveitam o dia a dia, comecei a me questionar sobre meu próprio estilo de vida. Hoje, tento viver de maneira mais leve, sem me preocupar tanto com a opinião alheia. Encontrei maneiras de ser feliz aqui, vivendo de uma forma que me traz mais satisfação pessoal.

C: Você poderia nos dizer qual é a filosofia educacional ou método mais importante para você ao ensinar coreano?

Após a pandemia, muitos alunos que chegam ao Instituto já tiveram algum contato com o coreano, seja assistindo a séries ou ouvindo músicas. Entretanto, muitos deles têm dificuldades com a pronúncia, pois aprenderam sozinhos ou por meio de vídeos. Nas aulas de nível básico, foco especialmente na pronúncia e na gramática, porque vejo que muitos dos materiais disponíveis são voltados para falantes de inglês. Foi por isso que comecei a aprender português – para ensinar coreano de uma forma mais comparativa e efetiva. Por exemplo, o som “ae” no coreano é frequentemente escrito como “AE” em inglês, mas no português isso seria lido como “aê”, o que está incorreto. Então eu uso o português para explicar as diferenças e facilitar o aprendizado.


Foto: Concurso de Discurso Coreano de 2024


C: Por último, poderia deixar uma mensagem para os alunos brasileiros que estão estudando coreano?

O coreano e o português são línguas muito diferentes. A gramática e a pronúncia são tão distintas que, mesmo após oito anos aqui, sinto dificuldades para aprender o português. Mesmo assim, encorajo meus alunos a perseverar e não desistir. Espero que todos consigam atingir seus objetivos no aprendizado do coreano.


Assista ao vídeo da entrevista

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